quarta-feira, 12 de junho de 2013


 Dr. Luciano M. Simão
Neuro-Oftalmologista da
AVISTAR CLÍNICA DE OLHOS
 

O que é Neuro-Oftalmologia?

A Neuro-Oftalmologia é a área da Medicina responsável pela investigação dos problemas visuais relacionados ao sistema nervoso central, ou seja, a problemas visuais que podem não estar, originalmente, nos próprios olhos, mas serem causados por alguma alteração do funcionamento do cérebro.

A Neuro-Oftalmologia estuda, portanto:

- as doenças que acometem a via aferente da visão, ou seja, a via óptica que se inicia a partir dos olhos e termina nas áreas do cérebro responsáveis pela visão;

- as possíveis alterações da via eferente da percepção visual, ou seja, a parte motora da visão. A via eferente é responsável pela movimentação dos olhos, abertura das pálpebras e alterações do tamanho da pupila, por exemplo.

As duas vias, aferente e eferente, do sistema visual “trabalham”, simultânea e inconscientemente, como, por exemplo, durante o simples ato de acordar, abrir os olhos e enxergar o mundo ao redor.

Quem exerce a Neuro-Oftalmologia no Brasil?

No Brasil, a Neuro-Oftalmologia é uma subespecialidade da Oftalmologia que exige, além de formação especializada nesta área, grande conhecimento científico sobre problemas relacionados às estruturas oculares, vias ópticas, conexões inter e intracerebrais, nervos cranianos, músculos oculares, etc. Além disso, exige, também, conhecimento de áreas afins com a Neurologia, com a Radiologia, com a Reumatologia, com a Infectologia, com a Endocrinologia e Metabologia, com a Cardiologia, entre outras.

Para se tornar um neuro-oftalmologista, o médico deve completar, pelo menos, dez anos de estudos e treinamento clínico: estudar por seis anos o curso de Medicina, completar os três anos de residência médica em Oftalmologia e um ano, no mínimo, da subespecialização em neuro-oftalmologia. Caso o profissional esteja ou não vinculado a um serviço de ensino médico universitário, sua formação pode se estender, ainda mais, com a realização de um mestrado ou doutorado que vão exigir, no mínimo, dois anos a mais de estudo.

Como se pode perceber, é necessário, portanto, um grande preparo e um aperfeiçoamento médico contínuo para o exercício da subespecialidade em questão.

Quem deve se submeter à avaliação neuro-oftalmológica?

Na grande maioria dos casos, os médicos oftalmologistas são, geralmente, os primeiros a se depararem com uma alteração no sistema visual durante uma consulta oftalmológica de rotina. Portanto, o encaminhamento para uma avaliação neuro-oftalmológica surge quando o médico oftalmologista percebe que o paciente não apresenta ganho de visão com o exame dos óculos, ou, ainda, quando o médico não detecta nenhuma alteração ao exame que justifique a perda de visão. Entretanto, eventualmente, mesmo que o oftalmologista não detecte prejuízo à visão, pode encontrar alguma anormalidade (alterações no exame do fundo de olho, na aparência do disco óptico/retina, nos movimentos dos olhos ou pupilas) que demande o encaminhamento do paciente ao neuro-oftalmologista para melhor elucidação diagnóstica.

Compete, portanto, ao neuro-oftalmologista a habilidade ímpar de avaliar os pacientes sob os pontos de vista da interface neurológica e oftalmológica, no intuito de diagnosticar e tratar uma grande variedade de sinais e sintomas relacionados ao sistema visual.

Quais são as doenças que podem ser detectadas numa avaliação neuro-oftalmológica?

Alguns dos problemas comumente avaliados pelo neuro-oftalmologista são relacionados a:

- neurite óptica, ou seja, a inflamação do nervo óptico;

-neuropatia óptica isquêmica, ou seja, a alteração da função do nervo óptico decorrente da alteração em sua circulação sanguínea;

- baixa de visão não justificada por exame oftalmológico aparentemente normal;

- perda de campo visual;

- visão dupla;

- simulação de perda de visão;

- movimentos anormais dos olhos;

- alteração do tamanho das pupilas;

- anormalidade de abertura ou fechamento das pálpebras;

- doenças sistêmicas relacionadas à visão, como os distúrbios da glândula da tireóide, da glândula hipófise, associados a doenças reumatológicas, etc;

- distúrbios neuro-musculares como a miastenia gravis, oftalmoplegia externa progressiva crônica, oftalmoplegia supranuclear, etc;

- nistagmo (movimento desordenado dos olhos), blefarospasmos (contração involuntária dos olhos com movimentos de fechar e abrir).  

É importante ressaltar, contudo, que a lista acima é meramente exemplificativa e não exclui a possibilidade de outros diagnósticos decorrentes de avaliação neuro-oftalmológica.

Consulta neuro-oftalmológica: passo a passo

A consulta neuro-oftalmológica inicial abrange, geralmente, dois momentos: o primeiro, que consta da história e avaliação inicial do paciente, sem a dilatação das pupilas, e o segundo, com a utilização de colírios para a dilatação das pupilas, que permite o exame do fundo do olho para a análise, em especial, da retina e do nervo óptico.

Deve-se salientar que o primeiro momento da avaliação neuro-oftalmológica é de extrema importância, uma vez que abrange a coleta minuciosa da história clínica do paciente, a análise de laudos, avaliações médicas e exames, e, também, o exame clínico, que envolve a realização de testes apropriados, capazes de quantificar e qualificar a função visual do paciente, como, por exemplo: testes de sensibilidade ao contraste, teste de cores, teste de motilidade, reflexo pupilar, avaliação das pálpebras, testes neurológicos para estudo da função dos nervos cranianos e, ainda, a biomicroscopia, a tonometria de aplanação e o exame do fundo de olho.

Somente após estes passos a consulta neuro-oftalmológica inicial estará completa e o médico poderá concluir seu diagnóstico ou solicitar a realização de exames complementares, que poderão ser, por exemplo:

- campo visual computadorizado ou manual;

- tomografia de coerência óptica – OCT- (que mede a espessura da camada de fibra nervosa da retina envolta do disco óptico);

- exames eletrofisiológicos (como potencial evocado visual, oculograma e o eletrorretinograma) e exame de eletroneuromiografia;

- exames laboratoriais, incluindo os de sangue e o do líquido cefalorraquidiano (líquido que circula nos tecidos cerebrais, medula espinhal e, inclusive, os nervos ópticos);

-biópsia de artéria temporal ou muscular;

- exames de imagem (como, por exemplo, a ressonância magnética do encéfalo, tomografia de crânio e o ecodoppler de vasos cerebrais e do pescoço).

Como se demonstrou, a avaliação neuro-oftalmológica abrange diversas áreas da Medicina e cabe ao neuro-oftalmologista aplicar todos os recursos de investigação diagnóstica disponíveis para a elucidação do caso e indicar o devido tratamento ou conduta, se necessário. Pretende-se, desta maneira, estabelecer um diagnóstico mais preciso acerca da doença ocular do paciente e, assim, buscar a promoção e manutenção da saúde ocular dos pacientes. 

Recomendações para a consulta neuro-oftalmológica

Ao marcar a consulta neuro-oftalmológica, procure trazer, se possível, um relatório do médico que o (a) encaminhou. De preferência, traga todos os exames já realizados, incluindo os de sangue e os de imagem (ressonância magnética e / ou tomografia) pertinentes ao caso. Não se esqueça de levar a lista de medicamentos em uso ou mesmo a informação dos já utilizados para o caso.